sábado, 22 de março de 2014

LITURGIA DIÁRIA DO 3º DOMINGO DA QUARESMA

DIA 23 DE MARÇO - DOMINGO


(ROXO, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO)

Antífona da entrada: Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, porque livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz (Sl 24,15s).
Oração do dia
Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Êxodo 17,3-7)
Leitura do livro do Êxodo.
Naqueles dias, 17 3 entretanto, o povo que ali estava privado de água e devorado pela sede, murmurava contra Moisés: “Por que nos fizeste sair do Egito? Para nos fazer morrer de sede com nossos filhinhos e nossos rebanhos?”
4 Então dirigiu Moisés esta prece ao Senhor: “Que farei a este povo? Mais um pouco e irão apedrejar-me.”
5 O Senhor respondeu a Moisés: “Passa adiante do povo, e leva contigo alguns dos anciãos de Israel; toma na mão tua vara, com que feriste o Nilo, e vai.
6 Eis que estarei ali diante de ti, sobre o rochedo do monte Horeb ferirás o rochedo e a água jorrará dele: assim o povo poderá beber.” Isso fez Moisés em presença dos anciãos de Israel.
7 Chamaram esse lugar Massá e Meribá, por causa da contenda que os israelitas tiveram com ele, e porque tinham provocado o Senhor, dizendo: “O Senhor está ou não no meio de nós?”
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 94/95
Não fecheis o vosso coração,
Mas ouvi a voz do Senhor.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores
e, com cantos de alegria, o celebremos!

Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
“Não fecheis os corações como em Meriba,
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras”.
Leitura (Romanos 5,1-2.5-8)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Romanos.
Irmãos, 5 1 justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
2 Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus.
5 E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6 Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios.
7 Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer.
8 Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
Palavra do Senhor.
Evangelho (João 4,5-42 ou 5-15.19-26.39-42)
Glória e louvor a vós, ó Cristo.
Na verdade, sois, Senhor, o salvador do mundo. Senhor, dai-me água viva a fim de eu não ter sede! (Jo4,42.15).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, Jesus 4 5 chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras que Jacó dera a seu filho José.
6 Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à beira do poço. Era por volta do meio-dia.
7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: "Dá-me de beber".
8 (Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.)
9 Aquela samaritana lhe disse: "Sendo tu judeu, como pedes de beber a mim, que sou samaritana?" (Pois os judeus não se comunicavam com os samaritanos.)
10 Respondeu-lhe Jesus: "Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: ´Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva´".
11 A mulher lhe replicou: "Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água viva?
12 És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos?"
13 Respondeu-lhe Jesus: "Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede,
14 mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna".
15 A mulher suplicou: "Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!"
16 Disse-lhe Jesus: "Vai, chama teu marido e volta cá".
17 A mulher respondeu: "Não tenho marido". Disse Jesus: "Tens razão em dizer que não tens marido.
18 Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade".
19 "Senhor", disse-lhe a mulher, "vejo que és profeta!
20 Nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar".
21 Jesus respondeu: "Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém.
22 Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
23 Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja.
24 Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade".
25 Respondeu a mulher: "Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo); quando, pois, vier, ele nos fará conhecer todas as coisas".
26 Disse-lhe Jesus: "Sou eu, quem fala contigo".
27 Nisso seus discípulos chegaram e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher. Ninguém, todavia, perguntou: "Que perguntas?" Ou: "Que falas com ela?"
28 A mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
29 "Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não seria ele, porventura, o Cristo?"
30 Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus.
31 Entretanto, os discípulos lhe pediam: "Mestre, come".
32 Mas ele lhes disse: "Tenho um alimento para comer que vós não conheceis".
33 Os discípulos perguntavam uns aos outros: "Alguém lhe teria trazido de comer?"
34 Disse-lhes Jesus: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra.
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa.
36 O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna; assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão.
37 Porque eis que se pode dizer com toda verdade: Um é o que semeia outro é o que ceifa. 38 Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado; outros trabalharam, e vós entrastes nos seus trabalhos".
39 Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por causa da palavra da mulher, que lhes declarara: "Ele me disse tudo quanto tenho feito".
40 Assim, quando os samaritanos foram ter com ele, pediram que ficasse com eles. Ele permaneceu ali dois dias.
41 Ainda muitos outros creram nele por causa das suas palavras.
42 E diziam à mulher: "Já não é por causa da tua declaração que cremos, mas nós mesmos ouvimos e sabemos ser este verdadeiramente o Salvador do mundo".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
O DOM DE DEUS
Jesus tornou-se o dom de Deus na vida da mulher que ele encontrou junto ao poço de Siquém. A descoberta do dom divino deu-se de maneira gradativa. A reação inicial da mulher foi de rejeição, fruto de preconceitos. Ela não podia compreender como um judeu tivesse a ousadia de dirigir-se a uma samaritana, dado a inimizade histórica entre estes dois grupos.
O comentário de Jesus, diante desta negativa, despertou nela um certo interesse. A alusão à possibilidade de obter "água viva" suscitou um mal-entendido: a mulher entreviu a possibilidade de ver-se livre da obrigação de buscar água, naquele poço tão profundo. Assim, quando Jesus falou de uma água que jorra para a vida eterna, ela manifestou o desejo de obtê-la. Para isso, o Mestre colocou como condição que trouxesse consigo seu marido. Foi quando Jesus começou a penetrar na vida pessoal da samaritana, mostrando conhecê-la muito mais do que ela pensava. O Mestre manifestou seu interesse por aquela mulher desconhecida. A partir daí ela começou a se abrir para a fé. O tema da água foi substituído pela questão da adoração a Deus. De modo pedagógico e delicado, Jesus conduziu-a nos meandros da fé, a ponto de fazê-la compreender que tinha diante de si o Messias longamente esperado.
Assim que ela acolheu o dom de Deus na pessoa de Jesus, tornou-se proclamadora de sua presença como Messias salvador. E muitos acreditaram, a partir do testemunho da mulher.

OraçãoPai, em Jesus, tu nos destes um dom precioso. Dá-me a graça de reconhecê-lo e acolhê-lo, cheio de fé, e deixar minha vida ser transformada por ele.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Ó Deus de bondade, concedei-nos, por este sacrifício, que, pedindo perdão de nossos pecados, saibamos perdoar a nossos semelhantes. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Naquele que beber da água que eu darei, diz o Senhor, brotará uma fonte que jorra para a vida eterna (Jo 4,13).
Depois da comunhão
Ó Deus, tendo recebido o penhor do vosso mistério celeste, e já saciados na terra com o pão do céu, nós vos pedimos a graça de manifestar em nossa vida o que o sacramento realizou em nós. Por Cristo, nosso Senhor.

sábado, 8 de março de 2014


LITURGIA 1º DOMINGO DA QUARESMA 2014
Primeira Leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7)
Salmo (Sl 50)
— Piedade, ó Senhor, tende piedade,/ pois pecamos contra vós.
Segunda Leitura (Rm 5,12.17-19)
Evangelho (Mt 4,1-11)


AS TENTAÇÕES DE JESUS E AS NOSSAS TENTAÇÕES

A Liturgia deste primeiro domingo da Quaresma convida-nos a fazermos uma reflexão profunda sobre o sentido de Deus na nossa vida. Ao apresentar-nos as tentações de Jesus no deserto pretende que também nós tomemos consciência das muitas tentações que no dia a dia nos assolam e da maneira como reagimos perante elas.
As três tentações sintetizam as muitas que certamente teve ao longo da sua vida: as dúvidas, os desânimos talvez mesmo os desejos de enveredar por outros rumos, de tornear as dificuldades.
Talvez que o evangelista, mais do que dar relevo às tentações pretenda, tão simplesmente, realçar a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai.

  • Transformar as pedras em pão:
É natural que, depois de um longo jejum, Jesus sentisse fome. No deserto não é fácil encontrar alimento.
Jesus sente vontade de transformar as pedras em pão: É a tentação de usar o seu poder e o privilégio de ser Filho de Deus, em benefício pessoal.
É a tentação da corrupção, de manipular Deus para resolver os problemas pessoais; de fazer chantagem com Deus: vem em socorro do teu amigo…
Quantas vezes queremos usar os nossos privilégios, a nossa fé, o serviço que prestamos na igreja para sermos reconhecidos…
É o pretendermos que Deus esteja constantemente ao nosso lado para nos resolver todas as dificuldades, em vez de nós próprios nos colocarmos em ação para encontrar uma saída.
É a tentação de nos instalarmos no marasmo da nossa existência esperando que os outros, ou Deus, façam o que nos compete fazer, ou deixar que as coisas se resolvam por si mesmas. De querermos subir na vida à custa de Deus.
“Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”: o homem não vive só quando as pedras se convertem em pão mas também quando não se convertem.
Há que aceitar o projeto de Deus e assumir-se como quem serve: “Eu não vim para ser servido mas para servir”.

  • tentacaoAtirar-se do pináculo do templo:
É a tentação da espetacularidade, de dar nas vistas, do prestígio.
Imaginem Jesus a atirar-se da torre do templo e ser sustentado pelos anjos. Toda a gente aplaudia; seria reconhecido por todos como enviado de Deus. Muitos se converteriam, não pela palavra e gestos de Jesus, mas pelos milagres, pela grandiosidade da sua manifestação.
É a tentação da vaidade em que tantas vezes caímos crendo-nos o umbigo do mundo;
É a tentação do prestígio.
Por outro lado, quantas vezes nos perguntamos: se Deus existe e é bom, porque permite o mal, o sofrimento?
Porque é que Deus não intervém para resolver os problemas do mundo?
Porque não se mostra às pessoas para crerem nele? Porque não me diz diretamente o quer de mim?
É a tentação de querer  um Deus paternalista, segundo os nossos desejos e caprichos, tipo mago da lâmpada de Aladim!…
Deus jamais mexerá uma palha para obrigar alguém a crer nele ou a seguir a sua vontade. A fé é uma adesão pessoal e livre, Deus jamais eliminará as nossas incertezas com milagres ou prodígios.
A esta tentação, Jesus responde: “Não tentarás o Senhor teu Deus!” Quer dizer: deixai Deus ser Deus!

  • Tentação do poder e da riqueza:
Já imaginaram Jesus como rei temporal? Também isso lhe passou pela cabeça. E, sem dúvida que seria um rei justo e bom. As pessoas, finalmente, veriam os seus direitos reconhecidos.
Quantas vezes pensamos: ‘se fosse rico, não haveria pobres à minha volta! ‘se me saísse o euro-milhões, distribuiria metade por obras de beneficência…’
Já pensaste que a Deus não interessam os futuríveis? Ele precisa de ti como tu és!… É a ti que Ele quer!

  • São tantas as tentações que sentimos:
A tentação do consumismo: o importante é ter muitas coisas, É a moda que nos escraviza; é a música que nos faz criar e seguir sempre novos ídolos; são os anúncios que em cada dia nos matraqueiam com novos modelos.
É a tentação do prazer: que nos faz idolatrar o próprio corpo e nos faz adorar o deus sexo, fazendo dos outros meros instrumentos da nossa satisfação e prazer.
É a tentação do poder: que nos faz passar por cima de tudo e de todos, sem olhar aos meios para atingir os fins.
A resposta de Jesus é decisiva: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto!”

Estas foram as tentações de Jesus e são ainda as nossas tentações. Ele resistiu porque o projeto de Deus era o fio condutor da sua vida. E nós?
A Quaresma é o tempo de entrarmos no deserto para nos encontrarmos com o Senhor e assumirmos o seu projeto na nossa vida. Vamos encher a nossa vida de sentido; vamos abrir o nosso coração para que Deus o molde; vamos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Pai… E podem crer: a nossa vida fará sentido porque estará cheia de Deus!…

quarta-feira, 5 de março de 2014

Papa Francisco envia mensagem para a Campanha da Fraternidade 2014

Fonte: CNBB
Por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade 2014, que aborda o tema "Fraternidade e Tráfico Humano" e o lema "É para a liberdade que Cristo nos libertou",  o papa Francisco enviou mensagem aos bispos da CNBB e  a todos os fiéis das dioceses, paróquias e comunidades do Brasil. No texto, o papa afirma que o tráfico de pessoas é uma “uma chaga social”.
“Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano!”, destacou Francisco. 
Ao final da mensagem, Francisco concedeu bênção apostólica a todos os brasileiros desejando uma Quaresma de vida nova em Cristo.

Confira a íntegra da mensagem:
 Queridos brasileiros,
Sempre lembrado do coração grande e da acolhida calorosa com que me estenderam os braços na visita de fins de julho passado, peço agora licença para ser companheiro em seu caminho quaresmal, que se inicia no dia 5 de março, falando-lhes da Campanha da Fraternidade que lhes recordo a vitória da Páscoa: <<É para a liberdade que Cristo nos libertou>> (Gal 5,1). Com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus Cristo libertou a humanidade das amarras da morte e do pecado. Durante os próximos quarenta dias, procuraremos conscientizar-nos mais e mais da misericórdia infinita que Deus usou para conosco e logo nos pediu para fazê-la transbordar para os outros, sobretudo aqueles que mais sofrem: <<Estás livre! Vai e ajuda os teus irmãos a serem livres!>>. Neste sentido, visando mobilizar os cristãos e pessoas de boa vontade da sociedade brasileira para uma chaga social qual é o tráfico de seres humanos, os nossos irmãos bispos do Brasil lhes propõe este ano o tema “Fraternidade e Tráfico Humano”.
Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano! <<A este nível, há necessidade de um profundo exame de consciência: de fato, quantas vezes toleramos que um ser humano seja considerado como um objeto, exposto para vender um produto ou para satisfazer desejos imorais? A pessoa humana não se deveria vender e comprar como uma mercadoria. Quem a usa e explora, mesmo indiretamente, torna-se cúmplice desta prepotência>> (Discurso aos novos Embaixadores, 12/XII/2013). Se, depois, descemos ao nível familiar e entramos em casa, quantas vezes aí reina a prepotência! Pais que escravizam os filhos, filhos que escravizam os pais; esposos que, esquecidos de seu chamado para o dom, se exploram como se fossem um produto descartável, que se usa e se joga fora; idosos sem lugar, crianças e adolescentes sem voz. Quantos ataques aos valores basilares do tecido familiar e da própria convivência social! Sim, há necessidade de um profundo exame de consciência. Como se pode anunciar a alegria da Páscoa, sem se solidarizar com aqueles cuja liberdade aqui na terra é negada?
Queridos brasileiros, tenhamos a certeza: Eu só ofendo a dignidade humana do outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê? De poder, de fama, de bens materiais... E isso – pasmem! A troco da minha dignidade de filho e filha de Deus, resgatada a preço do sangue de Cristo na Cruz e garantida pelo Espírito Santo que clama dentro de nós:<< “Abbá, Pai!”>> (cf. Gal 4,6). A dignidade humana é igual em todo o ser humano: quando piso-a no outro, estou pisando a minha. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! No ano passado, quando estive junto de vocês afirmei que o povo brasileiro dava uma grande lição de solidariedade; certo disso, faço votos de que os cristãos e as pessoas de boa vontade possam comprometer-se para que mais nenhum homem ou mulher, jovem ou criança, seja vítima do tráfico humano! E a base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o Evangelho de Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo o lado vida em abundância (cf. Evangelii gaudium, 75).
Com estes auspícios, invoco a proteção do Altíssimo sobre todos os brasileiros, para que a vida nova em Cristo lhes alcance, na mais perfeita liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21), despertando em cada coração sentimentos de ternura e compaixão por seu irmão e irmã necessitados de liberdade, enquanto de bom grado lhes envio uma propiciadora Bênção Apostólica.
Vaticano, 25 de fevereiro de 2014.
Francisco

segunda-feira, 3 de março de 2014

HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2014

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2014
ASSISTA

QUARTA FEIRA DE CINZAS
O início da Quaresma é marcado por um ritual singelo, mas de grande profundidade: a imposição das cinzas como sinal da verdadeira penitência do coração.
Como já temos considerado em ocasiões anteriores, a riquíssima liturgia da Igreja nos conduz sabiamente ao longo do ano, de maneira a tirarmos a cada momento um determinado proveito espiritual. E um dos períodos em que isso acontece com maior intensidade é no Tempo da Quaresma, "momento favorável" para a conversão (cf. II Cor 6, 2).
cerimonial_Cinzas.jpg
Ao receber as cinzas, ouviremos o convite à conversão que
pode expressar-se numa fórmula dupla: "Convertei-vos e 
acreditai no evangelho", ou: "Recorda-te que és 
pó e em pó te hás-de tornar"
Ao longo de suas seis semanas, a graça nos convida a uma sincera mudança de coração. O jejum, a oração e a esmola são sinais sensíveis da penitência com que nos preparamos para comemorar o acontecimento central da História da Salvação: a Ressurreição do Senhor, celebrada no Domingo de Páscoa.
Um rito único e tocante
A Quaresma inicia-se na Quarta-Feira de Cinzas. As leituras da Santa Missa desse dia foram escolhidas pela Igreja de modo a impostar os fiéis na perspectiva do tempo que começa. A profecia de Joel convoca o Povo Eleito à penitência como meio de atrair para si a misericórdia do Senhor (cf. Jl 2, 12-18). Após os versículos do Miserere, salmo penitencial por excelência (Sl 50), o Apóstolo nos convida à reconciliação com Deus (cf. II Cor 5, 20; 6, 2). E, já no Evangelho, Nosso Senhor nos ensina o verdadeiro sentido da oração, o jejum e esmola (cf. Mt 6, 1-6.16-18) que durante esse período vamos realizar.
Após a Liturgia da Palavra, os fiéis participam de um rito único e tocante. Cinzas são abençoadas pelo sacerdote e cada um dos presentes aproxima-se para recebê-las em forma de cruz sobre a testa, permanecendo o resto do dia com a marca de Cristo traçada sobre suas frontes. Qual a origem e o sentido deste cerimonial? É o que veremos a seguir.
As cinzas como sinal de penitência
Eloquente imagem da fragilidade humana e da futilidade dos bens deste mundo, as cinzas foram desde os mais antigos tempos sinal de luto e de dor, inclusive fora do âmbito do povo de Israel. Para este, elas simbolizavam a humilhação ou a penitência do homem diante de Deus. As páginas da História Sagrada estão cheias de episódios em que os israelitas se servem das cinzas para reconhecer o nada da natureza humana diante dos desígnios do Altíssimo, antes de pedir o auxílio da onipotência divina.
Assim, por exemplo, quando o ímpio Amã se dispunha a eliminar os judeus do império persa, Mardoqueu cobriu-se de cinza (cf. Est 4, 1), enquanto muitos outros israelitas "se deitavam sobre o saco e a cinza" (Est 4, 3). E, convencida pelo seu tio da necessidade de se apresentar diante do Rei Assuero para implorar-lhe a revogação do decreto, Ester passou três dias em jejum e oração e "cobriu a cabeça com cinzas" (Est 14, 2) a fim de pedir o auxílio de Deus antes de se encontrar com o tirano.
Casos análogos encontram-se em abundância nas páginas do Antigo Testamento. Daniel demanda a clemência de Deus para com Israel no exílio, "em jejum, cilício e cinza" (Dn 9, 3); Jó se retrata e se arrepende "no pó e na cinza" (Jó 42, 6); o rei de Nínive, um pagão, sensibilizado pela pregação do profeta Jonas que anunciava a destruição da cidade, "sentou-se sobre cinza" (Jn 3, 6) e fez penitência junto com todos os seus súditos, obtendo de Deus a abolição da pena contra eles decretada. E assim, muitos outros.
Já no Novo Testamento, é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo quem indica o valor da cinza como elemento penitencial ao increpar Corozaim e Betsaida, dizendo que, "se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza" (Mt 11, 21).
Desde os primeiros tempos do Cristianismo
Desde os primeiros tempos da Era da Graça, os cristãos adotaram essa forma de manifestar a contrição e a dor, segundo é atestado por inúmeros documentos.1 E com o tempo, o uso da cinza foi incorporado ao rito penitencial público mediante o qual era administrado, no início da Quaresma, o Sacramento da Reconciliação.
Em Roma, por exemplo, consta que esse rito era celebrado, já no século VII, na Quarta-Feira anterior ao primeiro domingo da Quaresma. Nos casos de faltas graves e públicas, o confessor envolvia o penitente com uma veste ordinária de saco, que cobria de cinza, para depois expulsá- lo do templo com estas palavras: "Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris: age pænitentiam ut habeas vitam æternam - Lembra-te homem, que és pó e ao pó hás de voltar; faz penitência a fim de teres a vida eterna".
Logo após, o pecador partia para lugares afastados, mosteiros fora da cidade ou, em certos casos, a própria casa, onde deveria fazer penitência ao longo de toda a Quaresma, para ser readmitido na comunidade só na Quinta-Feira Santa.2
Com o passar do tempo foi crescendo o número de fiéis que se associava de forma espontânea a esses ritos de penitência, desejando, movidos pela devoção, receber as mesmas cinzas com que eram cobertos os pecadores arrependidos. E quando a progressiva suavização das formas de penitência pública e a evolução do Sacramento da Reconciliação rumo à sua forma atual fez desaparecer esta severa cerimônia disciplinar, o rito das cinzas, somado ao jejum mais rigoroso desse dia, mantiveram- se como manifestação penitencial do início da Quaresma.
Assim, já no século XI a imposição das cinzas, antigamente reservada para os pecadores públicos, tornar- se- á obrigatória para leigos e clérigos.3
A imposição das cinzas, hoje
A reforma litúrgica conciliar inseriu a cerimônia de imposição das cinzas no seio da Celebração Eucarística desse dia, embora, em caso de necessidade, possam ser administradas fora da Missa, durante uma Liturgia da Palavra.
Segundo um costume iniciado no século XII,4 a cinza imposta aos fiéis nesse dia é obtida pela combustão dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano precedente. Isto ressalta ainda mais a futilidade das glórias deste mundo, voláteis como a cinza que o vento leva e efêmeras como os louvores dados ao Salvador ao entrar em Jerusalém, logo mudados em gritos de condenação.
Quando nos aproximamos do sacerdote para receber as cinzas ele traça sobre nossa testa de forma bem visível o sinal da Redenção, pois não devemos ocultar diante o mundo a nossa Fé cristã, nem devemos sentir vergonha em reconhecer nossa necessidade de conversão. E, enquanto o ministro de Deus as impõe, proclama uma destas duas frases bíblicas: "Lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar" (cf. Gn 3, 19) ou "Convertei- vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15).
Cerimonial de Quarta feira de Cinzas.jpg
 Quando nos aproximamos para receber as
cinzas o sacerdote traça sobre nossa testa o
sinal da Redenção

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP,
impõe as cinzas. Basílica de Nossa Senhora
do Rosário
A primeira lembra a caducidade da nossa natureza humana, tão bem simbolizada pelo pó e pela cinza, fim implacável de nossos corpos mortais. Com ela, a Liturgia eleva nossas vistas para a eternidade, fortalecendo- nos na "convicção de que nada neste mundo tem valor, a não ser o que tange a vida sobrenatural, e de que estamos aqui para entesourar valores eternos, e não aqueles que são comidos pela terra".5
A segunda realça a premente necessidade da verdadeira conversão, advertência que nos será repetida tantas vezes ao longo do período quaresmal.
Um sacramental de grande valor
A cerimônia de bênção e imposição das cinzas não deve ser vista apenas como uma bela manifestação de fé que deita suas raízes em antigos tempos. Muito além do seu valor simbólico e histórico, ela é um sacramental por cujo intermédio a Santa Igreja intercede ante seu Divino Esposo pelos fiéis que se acolhem a esta cerimônia e implora para eles graças de penitência e conversão.
Assim, quando ao abençoar as cinzas o sacerdote pede que Deus derrame sua bênção sobre os que vão recebê-las de forma que, "prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado o mistério pascal"6 ou possamos "pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova",7 devemos ter certeza de que, ao receber sobre nossa fronte as cinzas tornadas sagradas, Deus fortalecerá com sua graça os nossos bons propósitos para esse período de penitência.
Com as cinzas, símbolo da morte, ao longo da caminhada quaresmal, morreremos ao pecado com Cristo, e, limpos de nossas faltas, ressuscitaremos com Ele, fortalecidos para a vida nova da graça, tão bem simbolizada pelas águas regeneradoras com as quais seremos aspergidos na Vigília Pascal.
Aproveitemos mais este poderoso auxílio que Deus coloca ao nosso alcance e não tenhamos medo de fazer propósitos ousados que nos levem a uma efetiva mudança de vida. Quanto nos deveríamos sentir estimulados, diante desta convicção, a fazer um cuidadoso exame de consciência com vistas a uma boa Confissão! Estando a Santa Igreja rezando por nós, não nos faltará o auxílio necessário para chegar ao glorioso dia da Ressurreição do Senhor com uma alma inteiramente limpa e renovada. 
FONTE: (Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2013, n. 134, p. 18 - 21)